O político moçambicano, Raúl Domingos, defendeu na quarta-feira, em Maputo, que os alicerces de uma paz genuína estão fundados nos pilares da verdade, da liberdade, da justiça e do amor, sem os quais é praticamente impossível se falar de paz e muito menos de reconciliação nacional.
Falando durante a Conferência Nacional sobre a Paz e Reconciliação nacional, promovido pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) em coordenação com o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Raúl Domingos sublinhou que, para alcançar a paz genuína é preciso ensinar as pessoas a amar a paz, a construi-la e a defendê-la contra premissas de guerra que continuamente renascem.
“A paz genuína é possível se se despertar nos homens e nas gerações vindouras sobre o sentido e o amor da paz”, disse Domingos, acrescentando: “constata-se, ainda, que os órgãos judiciais estão fragilizados e não julgam, nem investigam os casos de fraudes nas eleições, e demais ilícitos eleitorais, a imprensa não é livre e é constantemente amordaçada quando se aventura a dizer a verdade”.
Segundo avança, para uma paz social efectiva, valores como honestidade, ética e moral e pessoas educadas a saber os verdadeiros pilares da paz são indispensáveis e que nisso tudo a democracia deve ser uma ferramenta essencial para que a verdade, a liberdade, a justiça e o amor prosperem e ajudem a transformar as mentes.
Por sua vez, a pastora Felicidade Chirinda, que falava sobre tema ganhos e desafios: uma perspectiva histórica dos Acordos Gerais de Paz em Moçambique, preferiu partir da premissa da necessidade de um diálogo como a chave fundamental para a resolução de qualquer conflito numa determinada sociedade, seja de índole doméstico, político e até militar.
“O grande problema que enfrentamos no nosso país é que não temos um diálogo informado e capacitado, de modo de saber como agir para trazer uma reconciliação eficaz, e uma justiça que leve a uma paz duradoura”, disse a pastora Felicidade Chirinda para quem a construção da paz precisa de teorias que podem informar as práticas a serem aplicadas na prevenção, na solidariedade e na resolução de conflitos.
REACÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS
A reflexão sobre o a paz e reconciliação envolveu diversas forças vivas nacionais, entre elas, políticos, académicos e organizações da sociedade civil, que entenderam unanimemente que a tolerância, a inclusão e o diálogo são fundamentais para o processo de reconciliação nacional volvidos 29 anos da assinatura do acordo de paz.
Em representação ao partido Frelimo, Alcido Ngwenha avançou que o diálogo é, sem dúvida, o principal mecanismo para reforçar a confiança no seio dos moçambicanos, bem como para a valorização da experiência.
“A democracia começa com diálogo. A inclusão, a transparência, a cidadania são valores que devem fortalecer o diálogo e a nossa democracia”, disse Ngwenha, ajuntando que a educação das novas gerações deve privilegiar a consciência da importância e necessidade de diálogo entre os moçambicanos, visando a construção do desenvolvimento e bem-estar no país.
Segundo disse, a Frelimo está profundamente empenhada nos esforços para o alcance da paz efectiva no país, ao longo de toda a sua história e que a luta armada de libertação nacional, em si mesma, foi uma etapa de busca de paz para a vidas dos moçambicanos.
Por sua vez, José Manteigas Gabriel, porta-voz do Partido Renamo e deputado da Assembleia da República, defende que, passados 29 anos de Acordo Geral de Paz, Moçambique ainda não está a viver uma paz efectiva e muito menos reconciliado, porque a exclusão, a pobreza desumanizante em que está votada a maioria da população e tantos outros factores continuam a flagelar o processo de pacificação.
“É nossa convicção, como partido Renamo que os paradigmas da paz e reconciliação estão assumidos pelo nosso povo; o grande entrave está nas mentes de alguns líderes que, em nome de interesses particulares ou grupais, tudo fazem para nos desviar da agenda nacional, harmonia e desenvolvimento nacional”, disse o deputado, sustentando que, na sua perspectiva, a consolidação da paz e reconciliação nacional é uma missão contínua dos políticos, académicos, religiosos, funcionários, jornalistas, do cidadão, de todos nós como Nação, porque Moçambique pertence a todos.
Já o secretário-geral do MDM, José Domingos Manuel, entende que o debate sobre reconciliação deve ser equilibrado, “contudo, como MDM, sempre defendeu a ideia de uma paz sem amarras políticas e que o diálogo para a paz deve ser inclusivo e com todos os actores sociais.”.
“Para nós, como MDM, o primeiro ingrediente para a paz é a tolerância e o segundo a inclusão. Estes dois temperos formam a reconciliação com o verdadeiro sabor do bem-estar numa sociedade”, disse José Domingos, para quem não se deve discutir reconciliação sem antes a paz estar garantida. A hipocrisia de uma paz sem reconciliação construída sobre alicerce de interesses particulares leva a uma falsa reconciliação e a falsa reconciliação leva à vingança e, por sua vez, à guerra”.
Refira-se que a Conferência Nacional sobre Paz e Reconciliação decorreu no âmbito da comemoração dos 29 anos da Assinatura do Acordo Geral de Paz, cujo marco foi assinalado no passado dia 04 de Outubro corrente a nível do país.
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