Suzy Bila dialoga com a obra de Paulina Chiziane em Itália

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 “É na interação entre os pensamentos de uma pessoa e de um contexto sociocultural que nos construímos e criamos novas formas de entendimento, tornando ‘coisas simples’ ou momentos em fenómenos sistêmicos e não individuais”. É com este pensamento que Suzy Bila vai pintar uma tela inspirada em Balada de amor ao vento, de Paulina Chiziane. A pintura será exposta e leiloada em Itália, no dia 27 deste mês.



A 8 de Março de 2011, a investigadora Italiana Cristina Gemmino esteve em Moçambique a entrevistar Paulina Chiziane e Mia Couto, no contexto do seu Doutoramento. Nessa altura indicada por Matteo Ângius, a seguir, procurou entrevistar Suzy Bila em Lisboa e conhecer a sua oficina.


Oito anos mais tarde, a pesquisadora Cristina Gemmino manifestou o interesse de convidar a artista plástica moçambicana para o lançamento de um projecto virado à difusão das culturas dos países que têm português como língua oficial, em Itália.


A escolha de Suzy Bila para o projecto da Associação Cafuné não foi fortuita. Pelo contrário, a organização do evento italiano interessou-se por Suzy Bila ao perceber que a artista tinha apresentado uma individual de pintura sobre a problemática da mulher, nua e crua. Assim, surgiu a ideia de a convidar a integrar um projecto de pintura desenvolvido a partir da leitura da obra de Paulina Chiziane. “Como conheço a realidade da mulher moçambicana e a obra da Paulina Chiziane, faz-me dialogar com o passado que me assiste, aceitei o desafio”, afirmou, esta terça-feira, Suzy Bila.


No Sul de Itália, num lugar ainda secreto (será revelado na véspera da sessão), conforme o convite da Associação Cafuné e da responsável artística, Cristina Gemmino, Suzy Bila vai pintar o feminino na companhia da actriz Delia de Marco e da saxofonista Laura Donatone, ambas italianas.


De acordo com a Cafuné, “A tela da Suzy e a interpretação de alguns trechos da obra da escritora Paulina Chiziane, Balada de amor ao vento, vão ser acompanhados pelos toques do sax com o declarado objectivo de convidar as participantes a uma viagem para além do próprio corpo, sugerindo pinceladas de maravilha e estupor e reflectindo sobre o papel da mulher ontem, hoje e amanhã”.


Suzy refere: “À medida que me encontro como ser reflexivo, vou abrindo portas para entender o que me move. Isto leva-me a uma visão de uma condição do “eu” e a minha subjectividade de mulher artista educadora nascida num país em construção da sua identidade e a arte permite-me encontrar o espaço de desobediência, rebeldia e novas formas de pensar e agir numa procura de significados”.


A sessão que vai celebrar a obra de Paulina Chiziane foi agendada há um ano. Já nessa altura, Suzy Bila ficou fascinada por poder participar. “Senti que a abertura desta nova janela será um começo de algo no qual outras mulheres artistas poderão usufruir no futuro. É um desbravar do caminho. Espero que o entrosamento de literatura e pintura, através do meu olhar pictórico perante a obra da Paulina, Balada de amor ao vento, faça eco noutros espaços, gerando desdobramentos, novas formas de ver os problemas da mulher moçambicana, novos lugares de encontros e de reflexão, partindo de Itália para o mundo”.



O lugar secreto onde a pintura da obra irá iniciar é uma fazenda italiana. Depois, a pintura será terminada na presença do público e leiloada para apoiar a iniciativa cultural da Cafuné.


Suzy Bila termina referenciando que falar da arte é quebrar fronteiras e tirar sentido ao mundo onde tudo tem um nome. “É começar continuamente, é algo que se liga à vida que nos confronta com as nossas peculiaridades, atravessando todas as barreiras e vivendo mais longe dentro de ti e tão perto de si”.

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