As dez perguntas e respostas sobre os ataques em Cabo Delgado

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Em três anos, esta província moçambicana rica em gás natural e outros minérios tem sido alvo de vários ataques realizados por grupos islâmicos. Importa entender o contexto de uma guerra que já fez mais de 1000 mortos e milhares de desalojados.

As dez perguntas e respostas sobre os ataques em Cabo Delgado

Onde fica Cabo Delgado?
A província de Cabo Delgado está localizada no extremo nordeste de Moçambique. A sua capital é a cidade de Pemba, localizada a cerca de 2. 600 km a norte de Maputo. A província tem uma área de 82 625 km² e tinha, em 2017, uma população de 2,3 milhões de habitantes. Está dividida em 17 distritos e possui, desde 2013, cinco municípios: Chiúre, Mocímboa da Praia, Montepuez, Mueda e Pemba.

Que riquezas tem a região?
Cabo Delgado é rico em gás natural. É a província onde está a ser feito o maior investimento total em Moçambique, para construção da já chamada “Cidade do Gás”, na península de Afungi. Está previsto um investimento de 125 mil milhões de dólares [115 mil milhões de euros] até meados desta década em projetos de exploração de gás natural na região. Multinacionais como a petrolífera norte-americana Anadarko ou o consórcio da Eni (grupo italiano) com a americana Exxon Mobil e a chinesa CNODC – China National Oil and Gas Exploration and Development Corporation estão no terreno.

Quando começaram os ataques terroristas?
A 5 de outubro de 2017. Foi o dia dos primeiros ataques de grupos armados totalmente desconhecidos na província de Cabo Delgado. Os alvos foram três postos da polícia em Mocímboa da Praia. No total, cinco mortos. Em novembro seguinte, várias mesquitas foram encerradas por ordem das autoridades moçambicanas, que suspeitavam de ali terem havido reuniões de grupos armado

Em três anos quantos mortos e desalojados houve?
Já foram registados mais de mil mortos e milhares de desalojados na província de Cabo Delgado desde outubro de 2017. Os primeiros meses de 2020 ficaram marcados por uma série de ataques cadenciados e cada vez mais violentos, contra aldeias inteiras, civis, edifícios do governo, da Igreja Católica e das várias organizações não governamentais que há anos operam no terreno e dão apoio às populações, como os Médicos Sem Fronteiras
Que organizações terroristas estão por trás dos ataques?


A radicalização islâmica no norte de Moçambique terá sido operada com o apoio de mais do que uma organização terrorista. Um estudo indicou que os insurgentes terão sido treinados por milícias armadas no Congo, Quénia e Somália, incluindo o grupo Al-Shabab (um braço do Estado islâmico). Alguns dos ataques têm sido reivindicados pelo Daesh ou Estado Islâmico. Também há suspeitas do envolvimento da Al-Qaeda.

Qual foi o ataque recente mais violento?
Foi no início deste mês quando a vila de Macomia sofreu um ataque que durou três dias e que se traduziu no saque de vários estabelecimentos comerciais, levados a cabo por grupos armados, alegadamente do Daesh, que usaram as pessoas como escudos. Houve relatos de mortes de adultos e crianças civis, embora ainda não haja dados oficiais. O centro da Médicos Sem Fronteiras em Macomia foi destruído, o que levou a ONG a abandonar a região. Os terroristas têm cortado as comunicações na região.

Houve ataques dirigidos a grupos específicos?
Sim. A 8 de abril deste ano na aldeia de Xitati as milícias armadas executaram 52 jovens que se recusaram a entrar na suas fileiras e a ser radicalizados. Os jovens foram massacrados, muitos deles decapitados e mortos a tiro.

Que motivos estão por trás dos ataques?
A radicalização islâmica na província de Cabo Delgado e a jihad (guerra santa) tem aproveitado a desigualdade extrema na região. A província é uma das mais ricas do país mas os seus recursos são explorados por multinacionais enquanto a população vive na pobreza, sem acesso a educação, cuidados de saúde e trabalho. Nem sequer lhes é permitido cultivar a terra, expulsos das vastas extensões de território concessionado às petrolíferas. Os pregadores do fundamentalismo islâmico viram ali um terreno fértil para a sua expansão, culpando a Frelimo pela apropriação dos recursos da região, a seu favor e das multinacionais.

As Forças Armadas estão a dar resposta aos ataques?
Estão, têm vindo a abater centenas de terroristas ao longo de três anos, mas não se pode dizer que estejam a vencer a guerra. No último domingo de maio o ministro da Defesa Nacional, Jaime Neto, anunciou que as Forças de Defesa e Segurança abateram 78 terroristas, incluindo dois cabecilhas, oriundos da Tanzânia, por causa do cerco à vila de Macomia. O responsável revelou ainda que outros 60 insurgentes terão ficado feridos

Que posição assume o Presidente Nyusi?
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, assumiu recentemente e pela primeira vez o envolvimento das elites militares do país em ataques mortais que até agora eram oficialmente atribuídos a grupos armados sem rosto. “Os moçambicanos não tolerarão de forma repetida a chantagem da guerra cíclica movida por grupos de indivíduos manipulados para sustentar o ego das elites internas e externas”, afirmou Nyusi.

plataformamedia.com

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