Um agente da Polícia Municipal na cidade de Nampula foi assassinado a tiro por dois membros da Unidade de Intervenção Rápida, no quintal da sua casa, na madrugada da última terça-feira. Este foi o quarto homem assassinado pela Polícia durante Estado de Emergência que ontem terminou no país.
Um velório bastante concorrido, que contou com a presença do edil da cidade de Nampula, Paulo Vanhale, onde praticamente foi ignorado o distanciamento social. No interior da casa ouvia-se lágrimas de consternação pela morte bárbara de Selemane Momade Hassane, agente da Polícia Municipal no Município da cidade de Nampula, assassinado na madrugada desta terça-feira na sua própria residência.
Tudo começou quando o malogrado fazia manobra para parquear o veículo no quintal e foi interpelado no portão por dois agentes da Unidade de Intervenção Rápida que se encontravam em patrulha na zona (no bairro de Namicopo). Ele terá colaborado e chamou o filho e a esposa para testemunharem que era o chefe da família, mas mesmo assim, um dos polícias disparou à queima-roupa contra o homem de 49 anos de idade.
“Depois deles confirmarem saíram do quintal, mas um deles levou a arma, voltou a entrar no quintal, o meu irmão estava com o carro a funcionar e ainda não tinha saído, foi à frente do vidro e atirou. O tiro lhe atingiu no peito” Suardo Hassane, irmão do malogrado.
Mesmo depois de sofrer o baleamento, a vítima ainda tentou conduzir em direcção ao Hospital Central de Nampula, juntamente com o filho. Todavia, a meio do trajecto, ia perdendo força e acabou morrendo.
Os colegas de trabalho que testemunharam o último adeus esta quarta-feira, não encontram palavras para descrever a consternação pela morte violenta de um companheiro. “Custa-nos acreditar até este momento pela forma como foi morto. Claro que todos nós contamos com a morte, mas existe aquela morte inexplicável para nós”, lamentou Amade Mustafá, colega de Hassane.
Os dois agentes da Polícia envolvidos no assassinato já foram detidos e deverão responder a dois processos, tal como confirmou Dércio Samuel, do comando provincial da PRM em Nampula. “Independentemente dos colegas estrem afetos naquela área onde faziam patrulha podem ter agido com excesso de zelo. Porém, vai se confirmar com a equipa indicada que vai nos trazer o relatório final do trabalho que estão a fazer. Os dois membros da PRM encontram-se detidos e decorrem em simultâneo dois processos, que são: criminal e disciplinar”.
Este é mais um caso de má actuação da Polícia durante este período de estado de emergência por conta da pandemia da COVID-19. Na Beira, há cerca de dois meses, dois agentes da PRM espancaram violentamente um homem de 40 anos de idade que acabou perdendo a vida.
Na primeira semana deste mês, um agente da Polícia a paisana mataram a tiro um jovem de 21 anos de idade no bairro da Matola “C”. No domingo, um agente alvejou mortalmente um jovem de 27 anos no bairro de Fomento.
O número 2, do artigo 58 da Constituição da República de Moçambique, determina que “O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais dos seus agentes, no exercício das suas funções, sem prejuízo do direito de regresso nos termos da lei”, o que significa que os lesados arrolados nesta reportagem podem abrir um processo contra o Estado, exigindo até indemnização pelos danos causados por esses funcionários e/ou agentes.
O País
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