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Filipe Nyusi questionado: Tímidos, anônimos, moçambicanos reprovam uma decisão presidencial
09:10Pela primeira vez desde que chegou à presidência da República, Filipe Nyusi está a enfrentar uma vaga de contestação pública através das redes sociais. Tímidos, anônimos, os moçambicanos reprovam uma decisão presidencial da véspera: na noite de domingo, Nyusi falou à Nação, determinou a manutenção do nível 3 do Estado de Emergência no contexto da Covid 19 e anunciou o relaxamento dalgumas medidas.
Uma delas é o desbloqueio do ensino. O PR determinou que as aulas no ensino público e privado vão ser retomadas de forma faseada; todas as outras restrições com vista à contenção da disseminação do novo corona vírus foram mantidas. (Para além da retoma das aulas, o PR desbloqueou as visitas a Museus e galerias e levantou a proibição de “jogging” individual).
O anúncio de Nyusi caiu mal na opinião pública. Habituados a ouvir todos os dias das autoridades de Saúde uma narrativa apontando para focos dramáticos de transmissão comunitária (que já afetaram zonas de Cabo Delgado e Nampula), os moçambicanos parece terem assumido que o desconfinamento não é para já, pelo menos no que tange à Educação.
Aliás, a Saúde e a OMS têm dito que a doença veio para ficar, sendo que a sociedade deveria habituar-se a viver com ela no quadro de uma “nova normalidade”. Ainda ontem, o DG da OMS, o Etíope Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse de Genebra que o mundo ainda vai assistir a uma segunda vaga caótica de infecções.
O anúncio do retorno às aulas foi considerado como “falta de bom senso”. Em vários grupos de Whatsapp questionava-se o que se passara na cabeça do PR para anunciar esse regresso às aulas num quadro de aumento da transmissão e quando não se estende o relaxamento para outras áreas como o transporte e o desporto, etc. “O Presidente não é pai dos nossos filhos; os nossos vão à escola de ‘chapa’’’.
A maioria das mensagens de repúdio ao anúncio de Nyusi tinha o mesmo tom: “não vamos arriscar nossos filhos em face de uma decisão irresponsável”. O grande receio dos moçambicanos decorre de uma realidade visível: a maior parte das escolas públicas apresenta condições sanitárias de pobreza e, por isso, não é garantida a obrigação da higienização.
O básico e cada vez mais urgente “lavar as mãos” não está garantido. Por outro lado, os alunos habitualmente apinham-se nos transporte semi-colectivos. Agora, sem um relaxamento neste sector, ninguém percebe como é que eles chegarão às escolas.
A representante da OMS em Maputo, Djamila Cabral, disse ontem que a decisão do regresso às aulas por parte do Governo era correcta. “O Governo tomou as medidas necessárias”, asseverou.
A contestação dos moçambicanos é apenas nas redes sociais. Não há manifestações de rua. Sente-se também um esforço dissimulado dos canais de TV para não darem eco a quem critica a decisão presidencial.
Na tarde de ontem, na STV, no programa "The Big Box Show", de Emerson Miranda, foi vedada a intervenção de telespectadores por telefone. Ainda assim, Miranda disse que havia recebido dezenas de mensagem com o mesmo teor de reprovação das medidas de Nyusi.
Nalguns grupos de Whatsaap, alguns pais de crianças no ensino privado anunciaram que já estavam a cancelar as matrículas em função de uma decisão “imprudente” do Presidente. (Carta)
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