As mulheres querem participar mais no processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR) para que haja mais inclusão.
Este ano 140 mulheres da Renamo deixaram as matas no contexto do DDR, mas a sua reintegração preocupa outro grupo da mesma classe.
A preocupação foi apresentada, durante uma mesa redonda havida, hoje, denominada “Mulheres e o Processo de Reintegração no Âmbito do DDR: Principais Desafios”, nas celebrações dos 30 anos da Democracia Multipartidária em Moçambique.
Segundo a gestora da Academia Política da Mulher do Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), Elisa Muianga, a mulher é uma das principais vítimas nos conflitos armados mas é deixada de lado duarante as negociações.
“Se a mulher não é incluída nessas discussões, qual é a garantia que se tem de que as suas necessidades serão atendidas? Se quisermos trazer essas pessoas para uma nova vida, precisamos incluir em todos processos. Mas se discutem pontos importantes sem a sua presença, então teremos algum défice nesse processo”, considerou Elisa Muianga.
De acordo com a representante da Frelimo no evento, Zélia Langa, a reintegração é mesmo difícil, mas é preciso que a pessoa desmobilizada seja guerreira e lute pelo seu espaço.
“A determinação deve ser ponto forte das mulheres. A reintegração depende da própria mulher" e quando for reintegrada deve "voltar a estudar e trabalhar para melhorar a sua situação. Não deve esperar que alguém o faça por ela”, afirmou Zélia Langa.
Para Langa, a mulher deve “trocar a arma pela enxada, trabalhar” e educar a sociedade para que não exclua as mulheres que deixam as matas e voltam à vida civil.
A ex-guerrilheira da Renamo, Albertina Ofício, disse que nos processos anteriores, a reintegração das mulheres foi negligenciada, porque mesmo com as mulheres que já participavam de várias actividades ou que trabalhavam em vários sectores, aquando da sua reintegração nenhuma ou a quase nenhuma foi dada a oportunidade de prosseguir com as actividades, nem nas Forças de Defesa e Segurança ou noutras instituições do Estado.
“Nos vimos na situação de desempregadas, o que nos restava era política, mas o espaço era pouco e muitas [mulheres] não tinham formação para isso”, explicou a ex-guerrilheira, acrescentando que no processo faltavam meios para o auto-sustento. Não havia projectos de reintegração para as mulheres. “É como se a nossa vida tivesse regredido”.
Entretanto, a fonte reconheceu alguns avanços no actual processo do DDR, pese “embora se não apresente ainda um programa específico” para a reintegração do grupo que volta à vida civil. E interlocutora fez votos para que o programa traçado tenha efeito na vida das beneficiárias.
Para o Conselho Cristão de Moçambique, “enquanto não se tomar a sério a questão da violência baseada no género, enquanto não se abordar claramente os assuntos da moral, da corrupção e não se levar a cabo um diálogo sincero sobre o nosso futuro, os nossos direitos irão sempre cair nos ouvidos surdos”, afirmou a presidente Felicidade Chirindza.
A fonte falou de um outro problema relacionado com a usurpação dos bens adquiridos aquando do DDR. Segundo elas, o facto ocorre porque as mulheres são vistas como um grupo frágil, que depende dos homens.
“Se daqui há seis meses ou um ano começarmos a ouvir que as mulheres beneficiadas pelo DDR já não detêm nada, porque surgiram os mais espertos, que usando o seu poder de maridos, filhos e irmãos ofereceram-se par ajudar, e nesse processo [as mulheres] ficarem sem nada, não devemos nos espantar”, alertou Felicidade Chirindza.
A presidente do Conselho Cristão de Moçambique chamou atenção à sociedade para que não considere esta atitude normal. Exortou ainda para crie condições de modo que as mulheres que voltam à vida civil possam gozar dos seus direitos de forma livre.
Por sua vez, o Ministério do Género, Criança e Acção Social garantiu que já está a trabalhar para melhorar a condição do grupo abrangido pelo DDRa, através da promoção de projectos que aumentem a segurança das mulheres. O programa em alusão irá também fornecer serviços multissectoriais integrados e orientados para as sobreviventes da violência.
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