Desde o passado dia 24 de Março, dia do ataque terrorista à Vila de Palma, a vida de quem lá vivia ficou marcada por histórias de tragédia, desespero e retrocessos. Desde então, dia-a-dia, dezenas de pessoas embarcam ou tentam embarcar em aventuras por terra ou mar, em busca de locais seguros para fugir dos terroristas.
Cerca de um mês depois do ataque terrorista à Vila de Palma, a cidade de Pemba, a capital de Cabo Delgado, continua a receber deslocados vindos de Palma.
Nesta terça-feira (20), mais de 100 pessoas chegaram à cidade, em duas embarcações artesanais, que atracaram no bairro de Paquitequete. Consigo, traziam (muito) pouco do que conseguiam salvar e levar na fuga. O que trazem de mais são estórias dramáticas da longa viagem que os levou para longe das suas casas.
“De Palma para Pemba, levámos onze dias, por causa do mau tempo, especialmente o vento, que empurrava o nosso barco para alto mar”, confirmou Fatua Adamo, uma mulher de 45 anos de idade, depois de desembarcar em Paquite, com o marido e seis filhos menores.
Prosseguindo com a crónica da “longa e cansativa viagem”, Mandrasse Sumail, outro deslocado recém-chegado a Pemba, disse que a aventura, pelo mar, esteve cheia de incertezas, riscos e mesmo iminência de um final trágico.
“Saímos de Palma, 131 pessoas num único barco. Durante a viagem, o barco partiu-se, e, por sorte, estávamos perto de uma ilha, onde chegámos a nado. Aí encontrámos dois barcos pequenos e dividimo-nos. Foi assim que chegámos a Pemba”, descreveu Mandrasse Sumail, uma jovem de 20 anos de idade que fugiu da aldeia Quissengue, depois de ter escapado de vários ataques.
O maior drama da viagem, de acordo com os deslocados, foram a fome e a falta de água potável, e só conseguiram sobreviver “graças a pessoas de boa vontade”.
“Sofremos muito com chuva, dia e noite. Só comíamos quando encontrássemos uma ilha onde pedíamos ajuda em comida e água. Cozinhávamos, comíamos e ganhávamos forças para continuar com a viagem”, contou Sumail.
Os deslocados não confirmaram a ocorrência de qualquer ataque recente, dizem apenas que fugiram devido ao terror e pânico provocados depois do ataque de 24 de Março, que deixou várias aldeias vizinhas praticamente desertas.
“Quase todas aldeias, incluindo Quissengue de onde estamos a sair, estão abandonadas. Todos estão concentrados em Quitupo, perto do acampamento da TOTAL, à espera de uma oportunidade para sair de Palma, revelou Abdul Inze, um dos mais de 130 deslocados desembarcados esta terça-feira em Palma.
Os deslocados, na sua maioria mulheres e crianças, foram recebidos pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), que os encaminhou a centros transitórios de acomodação, com excepção daqueles que encontraram logo alguém da família.
O mapa de acolhimento
Um mapeamento, feito pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), indica que o distrito de Mueda tem sido o palco de refúgio da maioria das pessoas que fogem de Palma.
Com base em dados recolhidos até semana passada, dia 15 de Abril corrente, o levantamento da ACNUR indica que 33% das cerca de 20 mil pessoas registadas, que fugiram dos recentes ataques a Palma estão em Mueda, distrito localizado a mais de 250 quilómetros.
Em Nangade, distrito imediatamente vizinho de Palma, estão contabilizados 26% de deslocados, seguido de Pemba com 19%, Montepuez (17%) e Chiúre, mais a sul, acolhe três por cento dos deslocados.
Do total dos deslocados, a ACNUR revela que 74% estão acolhidos pelas comunidades locais, salientando ainda que, da recente vaga de fuga de Palma, 43% são crianças, das quais, pouco mais de 260 estão sem companhia familiar.
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