O ano lectivo de 2021 arrancou, oficialmente, na última sexta-feira. Como consequência disso, as escolas voltaram a ter alunos e professores na sala de aulas esta segunda-feira. À semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, os alunos continuarão a ter lições de Português, Matemática, História, Biologia ou Química.
No entanto, a disciplina de Educação Física fica, para já, de lado. Se, por um lado, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) entende que há condições para o regresso às aulas, por outro, assume que o risco da leccionação da disciplina de Educação Física é elevado, porque contribuiria para aglomerados.
Assim sendo, para minimizar o risco de infecção por Coronavírus, o Governo decidiu adiar a retoma das aulas de Educação Física. A decisão, entretanto, caiu mal para a Associação dos Profissionais de Educação Física e Desportos de Moçambique, que escreveu uma carta aberta ao Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.
No documento, a Associação dos Profissionais de Educação Física e Desportos de Moçambique escreve que a Educação Física Escolar faz parte do sistema educativo imprescindível por razões que se prendem a fortes evidências científicas e pedagógicas. E lembra: “Baseado nessas evidências, a UNESCO (2013) declarou a Educação Física na Escola como o meio mais eficaz para proporcionar às crianças e jovens habilidades, capacidades, atitudes, valores, conhecimentos e compreensão para a sua participação na sociedade ao longo da vida, encorajando os governantes a tomarem medidas políticas para garantir que a disciplina assegure o seu lugar de direito nos curricula escolares, e que, consequentemente, os/as alunos/as se beneficiem com a exposição aos campos alternativos de aprendizagem”.
Considerando tais argumentos, a Associação dos Profissionais de Educação Física e Desportos de Moçambique entende que a disciplina constitui um factor determinante de desenvolvimento sem o qual a educação estará condicionada. Para os profissionais, o conceito de saúde no contexto moderno se prende, indissociavelmente, ao combate ao sedentarismo que se faz, comprovadamente, a partir da mais tenra idade e em todo o processo de crescimento e desenvolvimento.
Assim, “a suspensão da disciplina da Educação Física sobre o pretexto de combate à pandemia da COVID-19 constitui, a nosso ver, um equívoco que deve ser corrigido. Da mesma forma que as escolas recebem orientações para outras disciplinas sejam dadas de forma a evitar ao máximo o contágio”.
De acordo com Timóteo Daca, Presidente da Associação dos Profissionais de Educação Física e Desportos de Moçambique, os seus colegas possuem instrumentos pedagógicos muito diversificados que podem colocar os alunos em perfeita segurança. Sendo as aulas ao ar livre, o distanciamento é certo. Pelo que é urgente o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, segundo a Associação, reconsiderar a sua decisão da suspensão das aulas de Educação Física, sob o risco de contribuir para a inactividade das crianças e adolescentes que tanto pode agravar os problemas de saúde relacionados com o sistema respiratório, obesidade e hipertensão. Daca salienta que, num contexto em que as crianças cumprem o requisito de ficar em casa, pode ser perigoso prolongarem a inactividade no contexto escolar.
Quem concorda com a abordagem sobre os perigos da inactividade é o fisioterapeuta António Massinga. Para o profissional, se, por um lado, a suspensão das aulas de Educação Física tem uma razão preventiva, por outro, pode ter um impacto muito negativo. “A actividade física, para as crianças e adolescentes, traz inúmeros benefícios. Nós já temos crianças obesas. Neste período, elas poderão agravar a sua situação por inactividade. A pandemia que temos agora ataca os pulmões e órgãos respiratórios. Era suposto que as crianças, neste momento, fortalecessem o sistema cardiorrespiratório com as aulas de Educação Física”.
Mas o que será feito dos professores de Educação Física? Nas Escolas Secundárias Josina Machel e Francisco Manyanga, na cidade de Maputo, enquanto as aulas de Educação Física continuarem suspensas, não faltará trabalho aos professores da disciplina. A eles foi reservada uma tarefa concreta: “O professor de Educação Física, em primeiro lugar, tem a responsabilidade do protocolo sanitário. Portanto, desde a entrada dos meninos até à saída, estão todos na responsabilidade dos professores de Educação Física”, disse Lúcia Couana, Directora da Escola Secundária Francisco Manyanga. Na maior escola secundária do país, o mesmo: “Esta nova modalidade das aulas implica termos professores a apoiarem ainda que não seja na sala de aulas”, afirmou Orlando Dimas, Director da Escola Secundária Josina Machel.
De acordo com os dois directores, a suspensão das aulas de Educação Física não constitui um problema para os professores da disciplina nas suas escolas, pois todos compreendem por que não irão leccionar. Até porque a situação já vem do ano passado. “As aulas de Educação Física são necessárias, não há sombras de dúvida. São crianças que ainda estão a crescer e o desenvolvimento não é apenas intelectual, o desenvolvimento harmonioso envolve a parte física. Mas, infelizmente, as condições não são propícias e só podemos aceitar”. A estas palavras de Lúcia Couna, Orlando Dimas acrescentou, mais tarde: “a disciplina não está de fora, porque é menos importante do que as outras. Está de fora, porque a natureza dela permite contacto permanente entre os estudantes e entre os estudantes e o próprio professor”.
Na via pública, a suspensão das aulas de Educação Física está longe de ser consensual. Alguns encarregados, como Alexandre Mustafá, entendem que a decisão foi acertada, pois, de facto, as crianças iriam manter contacto. Já Josefina da Conceição, outra encarregada, defende que as aulas de Educação Física são essenciais neste momento, para que se movimente o corpo. A encarregada vê na redução do número de alunos uma alternativa.
Quanto aos alunos, os dois entrevistados nesta reportagem, uma menina e um menino, mostraram-se a favor da suspensão.
Por fim, como forma de minimizar os efeitos negativos que podem advir da falta de aulas de Educação Física, o fisioterapeuta António Massinga recomenda que os encarregados incentivem e monitorem a prática de actividade física das crianças e adolescentes em casa.
Do lado da Associação dos Professores de Educação Física e Desportos, ficou a promessa de apresentar ao Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano uma proposta que mostra que é possível a leccionação da disciplina de forma segura.
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