Cidadãos dizem que a subida do preço do pão vai sufocar os seus bolsos, as padarias antevêem redução da procura pelo produto nos primeiros meses após o aumento e dias ainda mais difíceis para a indústria panificadora.
Manhã de quarta-feira. O sol não está muito intenso, mas nem por isso aquecia menos. As altas temperaturas obrigaram a família Chissano a sentar-se na sombra de uma mangueira. Duas mulheres, duas crianças e um homem compõem a família. O calor era infernal, mas o relógio apontava para 09h, hora em que, por hábito é do pequeno-almoço.
Sentaram-se todos na esteira. À sua volta, tinha o pão, acompanhado de chá e outro molho de carril. Era de frango. É assim todos os dias. O alimento básico (o pão) não falta para este agregado familiar, porque o Senhor (Deus) dá e o preço ainda permite a sua compra.
“Todos os dias, comemos pão e jantar costuma ser o que conseguimos ajeitar”, disse André Chissano, chefe de família, residente no bairro de Laulane, na cidade de Maputo.
Até aqui, ter pão à mesa, sempre, não exige muitos esforços por parte deste homem desempregado de 60 anos, mas, a partir do dia 01 de Abril, as contas vão complicar e garantir o pão para os cinco membros da família será tudo, menos fácil.
“Com este aumento do preço do pão, não sei como é que vamos viver, porque nem comprar quatro ou cinco pães, diariamente, conseguimos e este é a nossa refeição de cada dia. Nós contamos com o pão para pequeno-almoço e almoço. Se houvesse mandioca, essa seria nossa alternativa, mas não há”, lamentou o chefe de família.
Uma vez que o pão é alimento que não pode faltar, André Chissano pondera continuar a comprar mesmo com a subida do preço, contudo algo terá de mudar. “Vou passar a comprar o que eu conseguir. Se comprávamos quatro, diminuiremos para dois. Não tenho outras manobras”, referiu André Chissano, numas contas rápidas que fez e num tom de resignação.
Mantendo ou não o seu tamanho actual, o que é certo é que o possível aumento do preço do pão a partir de 01 de Abril vai sufocar o bolso do cidadão. “O quê? Vai aumentar a partir do dia 01”, espantou-se Alberto Matine, com um olhar assustado, e reprovando a ideia de subir o preço do pão: “Não deviam aumentar. O povo não tem mais dinheiro para comprar as coisas caras. Essa coisa comida e outros bens essenciais não podem subir, porque estamos a passar mal” argumentou o nosso interlocutor, com um saco de quatro pães no plástico que acabara de comprar.
O mais frustrante para Idalina Felizarda, residente no bairro Laulane, é o facto de a subida do preço não acompanhar o peso do produto. “Estão a sufocar-nos. Ainda que eu diga algo enquanto vocês querem que isso aconteça, não vai adiantar. O peso dos pães é insignificante. – Ao subir o preço, como será? – Como é que será? Aumentem, também, peso”, rematou, a idosa dos 68 anos de idade.
Bunga, consumidor assíduo do pão, prefere acreditar que é o apocalipse: “É aí onde a nossa vida vai abaixo. Não vamos aguentar. Aliás, só vamos aguentar, porque enfim, quem vive na cidade deve aguentar”.
Se para os consumidores a subida do preço do pão estará insuportável, a indústria panificadora prevê redução do poder de compra e considera que este reajusto não chega a ser suficiente para salvar o sector.
“Quando o pão sobe, nós teremos problemas, porque não são todas as pessoas que vão querer comprar o produto. Algumas pessoas não vão conseguir comprá-lo (o pão) a um preço acima de 10 maticais ou a 12.5 MTS. Isso vai ser problema”, sublinhou Alberto Daniel, gerente da padaria Mira, na cidade de Maputo.
Contudo, Nelson Parruque prefere olhar pelo lado de alívio para os panificadores. “A possível alteração vai permitir que o sufoco pelo qual estamos a passar seja aliviado, porque, neste momento, o ramo da panificação trabalha no risco vermelho, muitas padarias estão a fechar e estamos a ter problemas na distribuição do pão a nível nacional”, descreveu Nelson Parruque, num tom de esperança pelos dias melhores.
Até aqui, a Associação Moçambicana dos Panificadores ainda não avançou os preços que poderão ser aplicados na compra do pão, mas revelou que vai variar de acordo com os custos de produção local.
0 comentários
O QUE VOCÊ ACHOU DO ARTIGO, DEIXE SEU COMENTARIO